terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Cap. 7 O Dissabor de viver.






Eu acho que dormi, porque quando acordei estava na cama e tudo parecia ter sido um sonho. Kara estava na cama lendo um livro.

Me levantei e olhei para o despertador ao meu lado. Marcava 01:55h da manhã. Kara me fitou por um longo segundo e eu me olhei por baixo das cobertas. Estava com um pijama azul bebe. Quem tinha trocado a minha roupa?

-Você está bem?-Kara perguntou.

-Sim.

-Amanhã iremos para York Shin. Desculpe essa mudança de cidade, tive que visitar um amigo meu.

-E ele também é vampiro?

Kara não me respondeu, só perguntando:

-Onde... Como?

-O que? –perguntei
-Como você sabia que ele não era o Kurapika?

Refleti um pouco antes de falar. A voz... Não queria ficar parecendo uma louca ao ponto de vista de Kara. Imagina? Eu ouço vozes do além, isso mesmo Kara. Eu sou paranormal, ganhei esses meus poderes depois que sai do coma e entrei numa depressão profunda!Podes crer. Coisa de louco não?

-Intuição.

Ela riu um pouco.

-Você conhece muito bem o seu namorado!

-Sim. - Disse e depois me dei conta do que tinha dito. –Não! Não foi o que eu quis dizer!

-Já era!- Ela começou a rir.

-Você não deixa passar uma só! –Disse emburrada.

-Não!-Ela disse rindo. O silencio voltou logo à tona.

-Que livro você está lendo? –perguntei sorridente pulando da minha cama até a dela. Ela mesmo assim não parou de ler o seu tão amado livro.

-Deixa eu ver. –Disse e ela não deixou eu pegar o livro.Então dei uma de idiota e pulei conseguindo pegar o livro, mas caindo com tudo no chão.

Kara parecia não sofrer nenhuma mudança com isso.

“E seus olhos brilharam, em perfeito esplendor, em perfeita harmonia, saberia eu o significado daquilo tudo? Saberia eu diferenciar o errado do certo, o amor da paixão, a dor do erro? Saberia eu me envolver nessa situação e sofrer no futuro já próximo a dor dos estilhaços em meu coração? Era tão passível aquele momento, seus olhos no escuro. Haveria eu força para dizer-lhe o amor que sentia? Eu tão sofredora alma, caminhando nas conturbações do meio da noite, vivenciando o escuro do dia, poderia eu alimentar uma paixão sofrida pela qual meu coração ansiava? Nenhum som saia em momento algum, nenhuma dor humana poderia transmitir o que eu sentia, amando alguém que me faria sofrer.”

Li e por um momento repensei sobre o que estava escrito.

“Sois vampira Kara?” Perguntei depois de algum tempo para ela.

Ela pareceu pensar sobre o assunto.

“Uma verdade que não deveria revelar para ninguém.”

“Sois?” Perguntei novamente.

“Sou.” Ela respondeu e um trovão se formou no céu. Naquele momento Kara me contara ser uma vampira. Naquele momento.

Senti então uma dor de cabeça enorme e uma tonteira desagradável. E então a voz ecoando no meu ouvido. Tu não serves para nada. Estares em um mundo onde a mentira prevalece, acreditas em quem está na sua frente e não em mim? Acreditas no mundo soberbo e disposto a infernizar sua vida? Acreditas? Sois eu a escuridão, sois eu que sempre estava ao seu lado. Acreditas nela e não em mim? Ainda queres viver nesse mundo que eu deixei você experimentar? Você não está apita a desvencilhar seu caminho, a beber do erro e do pecado, a se tornar a mulher que esse corpo já se formou. Sois ainda criança, aceitas.

E eu comecei a gritar, minha cabeça rodando estupefata, parecendo redemoinhos de vento a soprar minha massa encefálica. Parti, pois para o banheiro vomitando o que restava da minha ultima refeição. Kara correu ao meu encontro. Olhei-a com o pouco que tinha sobrado da minha visão.

-Sá, você está bem, seu nariz está sangrando...-Disse Kara enquanto me amparava pelos braços.

Terminarás sua vida de forma que nunca presenciou. Verás que ninguém estará ao seu lado no momento certo. Onde encontrarás Kurapika nesse momento? Verás minha pobre criança, verás.

-Eu não sei.-Disse enquanto tocava no meu nariz.

-Eu preciso levá-la ao hospital! –Disse Kara.

E minha visão terminou-se. Meus olhos cansados de ver tanto sangue expelido pelo nariz contemplou a escuridão. Não mais conseguia enxergar. Tinha voltado novamente a escuridão? Não! Essa não era uma idéia que eu queria receber, que eu queria descobrir.

“Sassá” ouvi bem longe, meus olhos voltando a abrir.

Kara estava ao meu lado.

Poderia dizer que a minha situação não era as das melhores por tantos tubos que atravessavam o meu corpo naquele estante. O desconforto presenciado em minhas vias aéreas. Concentrei-me por um estante nos olhos de Kara.

-Ainda não me abandonaste. - Disse séria e ela fitou o chão por um segundo, conseguia ouvir naquele momento o seu coração batendo desagradavelmente, a sístole e a diástole provocando repulsas.

-Não ainda.- Ela disse com a voz embargada.

-Não ainda. –Repeti enquanto observava o meu corpo debilitado, o que fora aquela agressão jorrada de meu corpo contra mim? Estaria eu bem?

-Estou bem?- Perguntei-a e dessa vez ela parecia mais relaxada ao dizer.
-Estares, fora só uma reação de seu corpo a algo estranho. –Ela disse sem entender como eu o que significaria estranho naquele momento.

-Ah...-Disse cortando o silencio depois de alguns segundos sem ninguém comentando nada.

E eu sentia medo mais uma vez. O meu lado covarde florescendo e se apoderando do que um dia nunca foi seu. O meu lado covarde estilhaçando meus sentimentos e contemplando o esplendor de minhas últimas palavras. Eu já não era mais criancinha, mas sentia medo do escuro. Eu o temia.

E pior do que ser covarde, de não tentar lutar, de se admitir fraca, era a minha redenção as lágrimas e a insanidade. Fechei os olhos me entregando a escuridão perversa.

-Hora do seu café da manha. - Alertou uma enfermeira enquanto me acordava e colocava uma bandeja no meu colo.

-Sim.-Disse sorridente.

Kara ainda se encontrava lá.

-Ainda não se rendestes e partistes para longe? –Perguntei.

-Não.- Disse ela e vendo que nenhuma reação a resposta me trazia continuou- Ainda não chegastes a minha hora de partir.

-Kara.

-Sim.

-Somos amigas não somos?

Ela hesitou dizer-me algo, mas não tinha reação, talvez lembrando de algum passado muito distante, não sei ao certo. Qualquer um diria que naquele momento Kara iria chorar, mas eu conhecia Kara e aquilo não era de seu feitio. Nunca tinha visto ela chorar, ou pelo menos uma lágrima escorrer de seus olhos.

-Eu não gosto dessa palavra.

-Eu gostaria de usá-la para com você.- Cortei-a.

-Não posso ser sua amiga.

-Por que?

-Não sabes com quem lida.

-Sei, lido com uma pessoa muito importante para mim, a qual não me deixastes sozinha quando precisei inúmeras vezes.

-Não sou uma amiga que alguém queira ter.

-Nem eu. –Disse sorrindo. Ela pareceu se irritar levantando da cadeira e andando em círculo.

-Sassá. Não é a mesma coisa. Olhe para você, linda, inocente, fofa, simpática, que garoto não iria te querer? Minha vida fora conturbada de mais para entender. Jorram pecados imortais nas veias que circulam no meu corpo, não sou uma pessoa em que se deve confiar, nunca.

-Eu acreditaria em você até a minha morte, por que para mim vos sois uma pessoa muito boa.

-Não sabes o que diz, se soubesse estaria gritando mandando eu ir embora.
-Fique.- Disse olhando para ela.

Kara me abraçou.

-Amigas?-Perguntei.

-Não quero ver vc sofrer.

-Amigas? –Perguntei mais uma vez.

-Amigas. Ela disse.
E tivemos um momento de silencio, cortado por Kara mesmo. Ela parou de me abraçar e se ajeitou na cadeira, pensativa em dizer- me algo. Esperei que ela continuasse a falar.

-Sá... Bem, você tem uma outra visita.

-Ah, se for o Ryuu fala para ele que se ele entrar aqui eu vou expulsa-lo a tapas.- Disse sorrindo, ela pareceu não achar graça.

-Não é o Ryuu.

-Se não é o Ryuu quem mais pode ser Kara? –Perguntei sem entender.
Kara olhou para baixo e então murmurou:

-Vou deixá-los a sós, saberá de quem estou falando.

-Kara. Fique, como terei certeza que não irá embora?

-Terá certeza, sou sua amiga, não a deixaria.

Meu pensamento voou longe.

-Ok então.
Kara saiu. Passou se ainda alguns minutos antes do visitante entrar. E então vi a porta ser aberta bem devagar, soltei um grunhido e então a voz me chamou:

“Sassá?”

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